Personagens
No teatro da vida não somos outra coisa: personagens. Mais ou menos reais. Caminhando através de um percurso sinuoso, desde a tolice até à verdade. É o designio de cada um, consoante saiba ser e seja calcorreado. Desde os personagens históricos até aos caricatos. Ou do bom-nome à troça, através de uma mão-cheia de todos nós, gente banal.
Não se exigem heróis. Também se dispensam os palhaços. Dos personagens do mundo espera-se apenas cumpram a sua missão, valorizando-se a si mesmos, se calhar através de qualquer contributo com que beneficiem quem os cerca.
Esse o ponto onde surge o termo mais apropositado de personalidade… Essa a diferença, afinal…
Ao longo do trajecto, tudo é detectável. Os empreendedores, quer nas ciências, quer nas letras; e os párias, pequenos seres abaixo do vulgar, incapazes de algo mais senão de… não ser.
E de nada fazer. De quem falo? Certamente de alguém incapaz de produzir – quero dizer: de deixar obra – impenitente gastador de energias em maldicência e intriga, roendo-se da sua impotência de se constituir gente. De escrever uma frase, de assentar três tijolos.
Tamaninos, vingativos, ocultos. Mas facilmente detectáveis, totalmente expostos ao ridículo. E, sobretudo, matéria-prima para inesgotáveis paródias postas a público.
Personagens, afinal, da velha – mas sempre actual - literatura queirosiana. Condessas de Gouvarinho sempre à tona da Baía de Cascais. Ainda que travestidas em trajes regionais…