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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Sequoia Semperviena

João-Afonso Machado, 26.09.10

Essa árvore com o sol a ofuscar-lhe a ponta, semi-coberta na base por caempancypers, é uma sequóia, e terá cerca de 150 anos. Uma criança, portanto, e irrequieta, como se vê pela dificuldade com que a objectiva a fixa. Disporia de uma vida inteira pela frente, tal como as suas primas da Sierra Nevada (California), despertíssimas, depois de mais de dois milénios, e descomunais, atingindo os 80 metros de altura e os 30 de diâmetro, São aquelas senhoras muito conhecidas, com nomes de generais americanos e - em um caso, pelo menos - uma estrada passando por entre o seu tronco.

Mas esta sequóia reside em Portugal. Cá para cima, para o Norte. Daí as minhas frequentes visitas, a saber de si, e as excelentes tardes de conversa em que discutimos a Lusitânia de Viriato, mais ou menos coeva das ditas suas parentes radicadas nos States.

Sendo rapariguita ainda, entendo não dever assustá-la. Coitada, já bem bastam as saudades da família, tão longe, sempre parca em notícias. É que nem mesmo um cartão de boas-festas no Natal!, qualquer inspirada fotografia com neve, ursos e a primalhada desse ramo Sequóia.

E em Portugal a miúda não tem motivos para viver tranquila. A taxa de mortalidade infantil entre as árvores dos nossos bosques é, como todos sabemos, elevadíssima. Desde logo porque ainda não descobrimos a vacina contra a peste vermelha - todos os verões é uma razia e os fisicos, ditos bombeiros - desgraçados - ainda não dispõem de ciência nem de meios para lutar contra essa morte implacável e sanguinária. Depois, porque a esperança de vida da Nação portuguesa começou a descer vertiginosamente desde 1910. Cem anos volvidos, estando nós no fim, quem dará abrigo então a esta jovem sequóiazita?

E assim vou tentando disfarçar a minha angústia, com as peripécias e guerrilhas de Viriato e os desaires de Vetíio, Pláucio e Fábio Máximo, sem saber quem acabará primeiro: nós, Portugal, levados pela República carunchosa, ou a sequóia, transformada em madeira por algum pato-bravo com um nome ainda mais possidónio do que o dos cônsules romanos.