Fugir? - não!
Elas não somem, as palavras escritas ou as imagens gravadas. Jamais! Por muito que a história seja recontada, adulterada. Por muito que se fuja para muito longe. Elas ficam, as palavras e as imagens, no preciso lugar onde foram deixadas. No exacto sentido em que as proferiram ou ofereceram, indiferentes à calúnia e ao descompromisso. Nesse mesmo instante do qual não me afasto.
Sem rimas, sem contornos musicados de improviso. Na evidente crueza da fidelidade renegada, sempre à margem do medo. Ciente do logro mas, ainda assim, rejeitando partir. À vista de todos, como as palavras escritas e as imagens gravadas, agora esquecidas.
É, o mundo é prenhe de esconderijos. Viva-se a vida, quem o queira, saltando de um para o outro. Mas as palavras e as imagens permanecem comigo, sem outra interpretação além do corpo, tantas vezes estreitado nos meus braços, e da alma que foi e afinal morreu.
(Entre ilusões e desilusões, os dias correm, quiçá perante outras visões. Amanhã, do lado oposto ao sol poente.)