O Seguro morre de velho
A vitória eleitoral de António José Seguro era mais do que previsível: era certa. Pela simples e incontornável razão de que Seguro não arrisca. É olhá-lo, ouvi-lo, observá-lo e concluir o óbvio.
Há já muito tempo adivinhara a queda socrática no precipício. Afastou-se então, para terrenos mais consistentes. Foi aparecendo o menos possivel, dizendo apenas o indispensável e, evidentemente, preparando as estruturas locais do PS para depois do desastre.
Ressurgiu ainda Sócrates não esfriara na urna dos votos. No mais conseguido estilo socialista: o fatinho à medida, o discurso redondo com pretensões a didactismo, a sobrancelha arqueada ao peso dos seus rigores éticos. E um tratado imenso, lido e explicado aos portugueses, sobre a revelação dos segredos e mistérios democráticos.
Francisco Assis é o oposto de Seguro e por isso estava condenado a perder. Invariávelmente sem tempo para compor o nó da gravata e barbear-se convenientemente, com os argumentos e as palavras na ponta da lingua, nem mesmo a sua derrota eleitoral na Câmara do Porto o ajudou a entender que será sempre carne para canhão. Um oportuno chefe de grupo parlamentar. Ou um comicieiro destemido, homem que se envia a Felgueiras, onde perdeu os óculos e quase perdia a pele às mãos dos apoiantes de Fátima.
Enfim, dois vultos diametralmente opostos. Onde num reside o calculismo e a rejeição do improviso, no outro vive plenamente a espontaneidade. A grande questão estará em saber qual o menos prejudicial à acção governativa, infeliz mas necessáriamente impopular. A consciência civica de Seguro estar-lhe-á sempre na oratória. E nas decisões e nos actos?