Cinquentenários
Foi um empreendimento de muitas luas, apresentado em parceria com os foguetes dos seus cinquenta anos. Uma festa bonita, inesquecível. A inauguração da casa, em Midões, terra do famigerado João Brandão, o aniversário marcante e mesmo as felicitações devidas por um doutoramento recente. E, entre aquele abraço de uma amizade de quase quatro décadas
(- Então desta vez vieste sózinho?
- Ainda se sentarás na cátedra primeiro...),
houve farta risota, compincha, cada vez mais arreigado este meu uxoricepticismo. Assim a minha descendência - porque uma coisa não implica a outra - aprenda com os meus Amigos o que é a fidelidade, o que é a honra, quão mais valem os actos do que a vacuidade dos discursos.
Tudo para explicar, afinal, a fartura da colheita de 61, a comemoração seguinte, já amanhã, e esses laços fortíssimos criados no trotar dos tempos, laços - obviamente - não se deixando, sequer, beliscar por quaisquer cretinices emitidas em ondas curtas, vulgo "mensagem fechada no Facebook", ou por outros sistemas fáceis de intriga.
A idade é que já vai revelando os seus perigos. As suas fragilidades. As lágrimas a brotarem mais fácilmente quando uma Amiga de sempre nos puxa as orelhas
(- Ganha-me juizo, rapaz!)
e num segredo acelerado deixa um piropo, um incentivo, talvez alguma memória de tempos já remotos. É o diabo! Pior, só talvez a lembrança de uma querida parente, Senhora idosa ali presente, oferecendo-me o colete de caça do Marido, que Deus tem. Porque sempre o acompanhara, sempre esperara por ele, quando persistia nas perdizes mesmo depois dos oitenta. O coração apertou-se-me, do tamanho de uma noz, aflitissimo, e os filhos corroborando a Mãe, o colete era meu. Nem sei se o vista, isto das emoções fortes tem de ser doseado, já não somos meninos.
E Portugal, entretanto?
Entretanto Portugal comemora centenários bacocos, vive proclamando alertas amarelos e vermelhos, emprenha pelos ouvidos e presta atenção às vizinhas do lado, sujeitinhas de apelido esquisitíssimo - agências de rating.