Está no fim
Ou no início, se quisermos, porque o pardacento Outono é sempre bem-vindo. Mesmo tratando-se do regresso de férias, com o trabalho à porta, a esperar-nos naquela sua eterna expressão de maldade, mesmo assim, o ar enche-se de folhagem e de frescura, e os pulmões de uma respiração mais lenta, mais funda. Vem aí um outro ano, uma ideia, vaga ainda, sobre o Natal, a lareira acesa, qualquer nevãozito entretanto.
As praias esvaziaram. E se saudades guardo, são desses Setembros que esticavamos em Vila do Conde, mesmo até às vindimas. O Baltazar banheiro recolhera já as barracas, as marés-vivas haviam ficado para trás, a multidão voltara à cidade. Restavamos nós. Uns tantos, poucos, conhecedores da terra e do clima. Sabendo perfeitamente que também a nortada debandaria, e a bonança precederia a tempestade. Dias inesquecíveis que se prolongavam quase até ser noite, já com a grande laranja submergindo no horizonte. Quatro gerações se ajuntavam na praia, o mar um lago, sem toldos, sem gente de volta, como que extasiados.
Desses, os mais velhos quase todos já nos faltam, levados pela idade. O tempo de férias, também a vida o tem ratado implacávelmente. Mas, então, com as nossas deambulações nocturnas impondo uma camisola de lã, e a calça de bombazina de novo em uso, - então, voltavamos a ouvir o zunido das bicicletas, enquanto Vila do Conde adormecia sem o ruído dos automóveis, a circulação das gentes e aquela euforia muito de Agosto, sempre cansativa.
Na manhã seguinte, de volta à praia, perguntávamo-nos preguiçosamente:
- Então, quando partes?
- Ainda não sei bem... E a Inês, já disse se ia embora?
E, de papo para o ar, não havia nem nortada, nem estudos, nem preocupações que nos afastassem de Vila do Conde. Nem das Ineses todas da nossa juventude.