Evocações
Conheci Pedo Feytor Pinto ainda nos meus anos de Universidade. Rabiscava, então, umas crónicas para o Primeiro de Janeiro, de que ele era o director. Regularmente me deslocava à Rua de Santa Catarina, por isso, a entregar-lhe em mão as minhas folhas A4 dactilografadas.
Era ainda a primeira metade da Década de 80, a tempestade política não amainara completamente. Sá Carneiro fora assassinado, a AD esboroara-se, imperava o Bloco Central. A minha escrita contra o Regime usava palavras duras, radicais. Reaccionárias.
Feytor Pinto lia os textos diante de mim, ria-se, coçava a cabeça e recomendava moderação. Mas publicava. Até porque não escondia a sua simpatia pelo Ideal Monárquico.
Nunca mais o encontrei. E hoje descubro no Expresso uma sua entrevista e a notícia de um seu recente livro de memórias - "Na Sombra do Poder" - que lerei com agrado. Foi o homem que personificou as negociações entre Marcelo Caetano e Salgueiro Maia e Spínola, em 25 de Abril de 1974.
De resto, não me passou despercebida a sua opinião (nessa entrevista) sobre Marcelo, provávelmente "em democracia um grande primeiro-ministro". Quem sabe? Adelino da Palma Carlos não o foi apenas porque a Esquerda começou a trepar e ele lidava mal com a desordem. E, depois de Sócrates, só mesmo em autocracia se poderá encontrar um chefe de governo mais intransigente.